quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Jovens trocam crime por pães


MARY LEAL
O trabalho e a força de vontade têm o poder de transformar vidas. É o que nos mostram histórias de jovens que viviam em conflito com a lei, mas que descobriram no aprendizado de uma profissão a oportunidade de reescrever um novo futuro, que desta vez promete ser mais gostoso e construtivo.
F.M.B. e V.S. têm 19 e 21 anos, mas, quando ainda eram menores de idade, cometeram crimes que os levaram ao Centro de Internação Granja das Oliveiras (Ciago), localizado no Recanto das Emas, por um ano e meio e três anos, respectivamente. A vontade de mudar, relacionada a uma política pública eficaz de qualificação profissional, fizeram diferença. Na instituição, ingressaram no curso profissionalizante de Panificação e Confeitaria, que acabara de ser implantado pelo Governo do Distrito Federal, e adquiriram um “passaporte” – em forma de diploma – para uma nova chance em suas vidas.

Segundo o secretário do Trabalho do DF, Glauco Rojas, as aulas oferecidas aos internos têm o mesmo padrão de outros cursos ministrados em Brasília. “Uma padaria industrial foi reformada para receber os alunos. Também intermediamos e auxiliamos esses jovens a ingressar no mercado de trabalho”, afirma.
Contente com o desempenho profissional dos jovens, o gerente geral da Panificadora Vila dos Pães, no Colorado, Cláudio Farias, destacou a importância do trabalho que está sendo realizado pela secretaria. “Uma coisa é o adolescente vir bater em sua porta para pedir emprego, outra, completamente diferente, é o governo fazer isso. Os técnicos vêm ao seu estabelecimento e explicam todo o processo direitinho, e isso dá muito mais tranquilidade para o empresário contratar”, avaliou. “Estou muito satisfeito com o empenho e a dedicação demonstrados pelos garotos”, acrescentou.
Morando atualmente no bairro do Paranoá com a mulher e a filha de um ano, F.M.B. seguiu durante dois meses as aulas do curso profissionalizante enquanto ainda estava internado. “Fui gostando, me interessando e, em pouco tempo, estava formado. Eu sabia que aquela era minha chance de mostrar para a sociedade, para meus vizinhos, para minha família, que eu poderia mudar de verdade”, destacou.
Por enquanto, o jovem ainda trabalha no setor de expedição de produtos, arrumando e empacotando encomendas que serão enviadas aos fregueses da padaria. Ele confessou estar ansioso para começar a trabalhar diretamente com a produção de pães e doces. Mas o que pareceu orgulhar o rapaz é o fato de poder ajudar nas despesas de casa: “Agora posso receber um dinheirinho no fim do mês e ajudar minha mulher, que trabalha como manicure, a criar nossa filhinha”, disse, com um sorriso tímido nos lábios.
A falta ao trabalho de um dos padeiros do estabelecimento fez surgir uma oportunidade que V.S segurou com força. Com apenas alguns dias de trabalho, o jovem foi testado de surpresa no setor de produção de massas e de lá não saiu mais. O rapaz ainda está em regime semiaberto no Ciago, trabalha durante o dia e volta para a instituição à noite.
“Estou adorando aqui, é muito interessante e gostoso aprender coisas novas. Fiquei impressionado com o tanto de produtos que eles fazem, mas o que eu gosto mesmo é de pizzas”, brinca. V.S. tem um conselho para jovens que, como ele, tiveram problemas com a Justiça: “o crime não compensa. O que se ganha aqui se perde lá na frente. Bom mesmo é o dinheiro suado, pois de tudo que eu ganhei no roubo não sobrou nada”.
“Até uns quatro anos atrás era fácil encontrar mão de obra para o setor, mas agora as coisas se inverteram e está muito complicado achar bons profissionais”, reclamou o gerente Farias. “Por isso, esses rapazes têm toda a chance do mundo de mudarem suas vidas, pois como o mercado brasiliense é carente, tenho certeza que, como bons padeiros e confeiteiros, dificilmente terão problemas para arrumar empregos no futuro”, finalizou.

Curso profissionalizante – Além do Ciago, o cursos de padeiro e confeiteiro para adolescentes de centros de internação no Distrito Federal são realizados no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) e no Centro de Internação de Adolescentes em Planaltina (Ciap). Os jovens beneficiados são selecionados por uma equipe de psicólogos e assistentes sociais.

Esta é a primeira vez que cursos longos (200h) e com qualificação efetiva ocorrem em centros de internação de menores no DF. A produção de pães das instituições é, por enquanto, para consumo interno, mas existe o projeto de comercialização dos produtos pela associação de mães e pais.

A Secretaria do Trabalho informou que, em breve, também vai oferecer o curso de mecânica de automóveis para os internos.
Agência Brasília de Notícias

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